Por: Riselda Morais
SAID durante evento de inauguração em 2010 |
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Os funcionários do SAID - Serviço de Atenção Integral ao Dependente realizaram um protesto na quinta-feira (28/02) em frente a Secretaria Municipal de Saúde contra o fechamento da unidade, bloqueio de 80 leitos e a demissão de grande parte do quadro de funcionários.
Segundo os profissionais de Saúde, o atendimento gratuito e intensivo dos dependentes químicos oferecido no SAID é de qualidade, com internação de até 90 dias, tempo suficiente para desintoxicar o paciente e tornar o tratamento eficaz, mas desde dezembro do ano passado, com a perspectiva de mudança de gestão e às vésperas de vencer o contrato com o Hospital Samaritano, que não foram realizadas novas internações, deram alta a muitos pacientes que deviam continuar internados ou os transferiram e mais da metade dos funcionários foram demitidos, por isto temem o fechamento da unidade que, em três anos de funcionamento, realizou mais de 926 internações.
O Said foi inaugurado em fevereiro de 2010, com a proposta de mostrar que existe caminho para a recuperação do dependente químico e que o papel do poder público é acreditar neste caminho e investir recursos. Contava com uma equipe de aproximadamente 200 profissionais entre médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, além de professores de educação física e de alfabetização.
Os pacientes eram incluídos no programa voltado à dependência química e também passavam por programas de recuperação física e educacional, reinserção social e apoio psicossocial. Durante a internação, que durava de um a três meses, os familiares também eram acompanhados e, quando necessário, encaminhados para atendimento psicológico na rede municipal de Saúde.
Em uma área de 7 mil m², o Said contava com corredor central grafitado pelos próprios pacientes, o refeitório, as unidades infantil e de adultos, o posto de enfermagem, a quadra poliesportiva, a área de atividades terapêuticas e pedagógicas, a oficina de terapia ocupacional, a sala de informática, a cozinha experimental, a tenda infantil , a academia; oferecia 80 leitos, sendo 14 na ala Adulto Feminino, 26 na Adulto Masculino, 20 na Adolescente Masculino e 20 na Adolescente Feminino.
Oferece atendimento psiquiátrico, psicológico, clínico e odontológico. Também há terapia ocupacional, oficinas e grupos de trabalho e equipamentos para condicionamento físico. O local recebia casos graves, como portadores de doenças sexualmente transmissíveis, pessoas com pendências judiciais ou ameaçadas de morte, encaminhados por outras unidades de saúde.
Segundo dados coletados no primeiro ano de funcionamento, entre os pacientes internados, em 58% dos casos havia associação de cocaína, crack, álcool, tabaco e maconha. A droga mais utilizada isoladamente era o crack, com 34% de casos. Em seguida, a substância que mais gera dependência, o álcool, que também está presente como doença atrelada à dependência principal em 8% dos casos.
Houve aditamento do contrato que venceu em 10 de janeiro até o final de março. O secretário municipal de Saúde, José de Filippi Júnior, explicou durante entrevista à rádio CBN que o contrato atual prevê o pagamento, pelo município, dos leitos como um todo, ocupados ou não. O custo total era de R$ 1,6 milhão ao mês e informou que estão sendo firmadas parcerias com hospitais de outras cidades na região metropolitana e no litoral para garantir o atendimento até o final da nova licitação.
O Desembargador Antônio Carlos Malheiros, responsável pela Coordenadoria de Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo, participou da reunião e cobrou do secretário municipal da Saúde, José de Filippi Júnior, que a licitação para a escolha do novo Gestor do Serviço de Atenção Integral ao Dependente (Said) mantenha o modelo de assistência a dependentes químicos que vem sendo desenvolvido nos três anos de funcionamento da unidade. “É o melhor serviço de reintegração para jovens dependentes químicos da cidade de São Paulo. E o único municipal. Nós atuaremos com todas as nossas possibilidades, não só para evitar qualquer paralisação no atendimento, mas para garantir que isso seja feito nas mesmas bases metodológicas desenvolvidas hoje, com sistema multidisciplinar buscando a reinserção do jovem na família e na sociedade.”
Segundo a Terapeuta ocupacional Eulália Henrique, que participou da reunião com a assessoria da secretaria, foi estabelecido o compromisso de a pasta intermediar a relação com o novo gestor, com o objetivo de aproveitar o grupo atual de trabalhadores. No entanto, todos serão demitidos pela atual administração, gerenciada, além do hospital Samaritano, pelo Centro de Estudos e Pesquisa Doutor João Amorim (Cejam). Também será constituída uma comissão de profissionais do Said para discutir e contribuir na proposta de trabalho do novo edital.