Objetivo é aproximar pessoas que vivem os mesmos problemas, trocar informações, dividir histórias, tirar dúvidas e conscientizar sobre a escoliose que é uma doença ainda tratada com preconceito por muitas pessoas.
Riselda Morais
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| Membros do Grupo Nós e a escoliose esclarecem dúvidas sobre a doença | e dividem suas histórias |
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“Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais cedo você trata, mais chances você tem de fugir da cirurgia e mais chances tem de corrigir a coluna”, alerta Dr. Marcus |
Foi realizado no sábado (27/07), em Itaquera, o 1º Encontro do “Grupo Nós e a Escoliose” de São Paulo. O Grupo tem uma página no facebook e já conta com mais de 700 membros, tem como objetivo aproximar pessoas que vivem os mesmos problemas, trocar informações, dividir suas histórias, tirar dúvidas e conscientizar sobre a escoliose que é uma doença ainda tratada com preconceito por muitas pessoas.
O encontro foi organizado por Regiane e Aline que são membros do Grupo. Regiane, 40 anos teve a escoliose diagnosticada há 27 anos já com 41º, mesmo com o tratamento conservador evoluiu para 70º, desenvolveu tendinite e bucite no quadril com um quadro de fortes dores, há 8 meses optou pela intervenção cirúrgica para a correção de escoliose.
“Encontrar o médico foi muito difícil, encontrava vários Ortopedistas mas eles não eram especializados em escoliose ou em coluna e tinha poucas informações, me sentia completamente insegura, tive muito medo de fazer a cirurgia, tinha medo de morrer, tinha medo de sangrar, tinha medo do que pudesse acontecer, encontrei Dr. Marcus, foi muito importante pra mim fazer a cirurgia com ele“, revela Regiane emocionada. Aline, 24 anos, descobriu a escoliose aos 16 anos, mas devido a diversidade de opiniões médicas acabou deixando a escoliose esquecida por 7 anos, realizou a cirurgia em 2012, com 67º na torácica e 50º na lombar e ficou muito bem depois da cirurgia.
“Infelizmente muitas pessoas que têm escoliose sofrem preconceitos, então acho que ainda temos muito que conversar, que debater”, afirma Aline.
O encontro contou com o convidado especial, Dr. Marcus Alexandre Mello Santos, médico Ortopedista Cirurgião de Coluna que esclareceu todas as dúvidas dos membros do grupo que compareceram, enviaram perguntas ou deram depoimento em vídeo.
A escoliose é um desvio da coluna vertebral para a esquerda ou direita, resultando em um formato de “S” ou “C”. “É um desvio da coluna no plano frontal acompanhado de uma rotação e de uma gibosidade”, disse Dr. Marcus que também explicou as origens da escoliose em três grupos:
- O 1º e menor grupo é da escoliose congênita diagnosticada quando tem algum defeito de formação em uma das vértebras e isso forma uma curva.
- O 2º grupo inclui cerca de 70% das deformidades, que é a escoliose idiopática da criança, juvenil e do adolescente. “Na medicina, tudo que é idiopático a gente não sabe a origem específica, por que gerou uma curva na coluna da pessoa, então a gente tem que acompanhar de 4 em 4 meses para entender o que está acontecendo, se está aumentando o grau ou não “, explicou Dr. Marcus.
- O 3º grupo é o da Escoliose Neuromuscular, nesse caso o paciente tem uma doença que gera o problema na coluna, pode ser uma distrofia muscular ou Mielomeningocele (Espinha Bífida) por exemplo.
Segundo Dr. Marcus, a gibosidade, ou giba, é formada pela rotação da coluna que gira sobre o próprio eixo, fazendo com que um tórax fique mais alto e o outro mais baixo e tem difícil correção. “Muitas vezes a gente corrige a escoliose, mas não zera a rotação, fica sempre uma deformidade residual da cirurgia, uma giba residual “, esclarece e recomenda atividade física de baixo impacto depois de algum tempo da cirurgia, quando liberado pelo médico: “Atividade física é extremamente importante, necessária porque quanto mais você trabalha a musculatura que fica em volta da coluna mais estabilidade e mais força, vai ter menos sobrecarga em cima das vértebras que não foram operadas“.
Dr. Marcus esclareceu que normalmente e na maioria dos casos, a curva da escoliose é para o lado direito e quando a curva é para a esquerda, é necessário que se faça uma ressonância magnética para detectar alteração na medula, existe alguma fisiopatologia, informou ainda, que só a escoliose acima de 60º pode comprometer a respiração por que o pulmão fica pressionado e não consegue expandir, com o tempo, também compromete o coração, por isto a indicação cirúrgica é médica e não estética, mas segundo ele, a intervenção cirúrgica é a última opção, deve vir primeiro o tratamento conservador com RPG, natação, atividade física, fisioterapia, uso de colete e observar a evolução, uma vez que quem determina a indicação cirúrgica é o grau e a maturidade óssea.
Quanto aos riscos de uma cirurgia para correção de escoliose, Dr. Marcus explicou que “em todo procedimento cirúrgico existe risco, até unha encravada e a medicina não é matemática, cada organismo responde de uma forma”, disse e esclareceu: “A gente se cerca de todos os procedimentos para segurança, faz exames pré operatórios, opera em um bom hospital que tenha baixo índice de infecção hospitalar, usa um bom material de última geração, deixa bolsa de sangue reservada, o pós operatório é na UTI, toma os cuidados com a ferida cirúrgica para evitar infecção, entre outros procedimentos; mas existe o risco de uma perda de sangue significativa, do paciente precisar de uma transfusão sanguínea, o risco com relação a anestesia, risco neurológico, estamos tratando da coluna e tem uma medula ali no meio”, enfatizou. Logo depois, Dr. Marcus ressaltou a importância da presença do médico neurofisiologista realizando o monitoramento da cirurgia: “Se tem alguma coisa levando risco ao paciente, se surge um sangramento intenso, uma questão neurológica ou com o material é detectado pelo médico monitor, nesse caso é prudente o médico abortar, fechar, esperar o paciente se recuperar e realizar a cirurgia em um segundo ou até terceiro tempo, é a segurança do paciente em primeiro lugar “, tranquiliza.
A incidência de escoliose é maior em meninas, segundo estudos, para cada 7 meninas portadoras de escoliose tem 1 menino, é difícil de detectar porque não dói e nas pessoas mais gordinhas geralmente só é percebida quando o grau já está elevado.
Enquanto no adulto a escoliose cresce 0,5 graus ao ano, o que parece pouco mas somados a todos os anos de vida chega-se a uma grande deformidade, no adolescente com escoliose idiopática, a deformidade da coluna aumenta de acordo com o crescimento dele, assim explica Dr. Marcus: “É nessa fase de crescimento rápido do adolescente que a escoliose cresce, que ela aparece“ e deu como exemplo as pioneiras da escoliose “a menina cresce de uma maneira linear até chegar a fase de pré puberdade, a primeira menstruação é uma divisão. Cresce de maneira rápida até chegar a primeira menstruação, depois desacelera o crescimento; até dois ou três anos na pós menstruação existe crescimento, é nessa fase que se faz a maioria dos diagnósticos de escoliose “.
Em casa ou na escola, pais ou professores de Educação Física, podem fazer um teste simples, o Teste de Adams, que detecta a escoliose nas crianças e adolescentes, basta seguir as seguintes orientações passadas pelo Ortopedista:
- Peça para a criança ou adolescente soltar os braços, juntar os pés, colocar o queixo no peito e vá inclinando para a frente, olhe para a coluna de frente e observe se todos os ossos da coluna estão alinhados, se estiverem, ótimo, está tudo bem, mas se houver desalinhamento leve a um Ortopedista de coluna para que seja feito um RX e diagnosticado o problema.
Este teste simples e feito por qualquer pessoa é muito importante, segundo o médico, “quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais cedo você trata, mais chances você tem de fugir da cirurgia e mais chances tem de corrigir a coluna”, alertou.
Dr. Marcus Alexandre Mello Santos é formado pela Faculdade de Medicina de Catanduva, formou-se Médico Ortopedista em São Paulo onde se especializou em coluna, trabalha na AACD há 11 anos e realiza cirurgia de coluna há 13 anos.