Riselda Morais
Flagrante de acidente na Radial Leste, motoqueiro colide na traseira e vai para no banco dianteiro do veículo. Foto: Riselda Morais |
Segundo dados do levantamento elaborado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), nos últimos dez anos, os acidentes de trânsito deixaram mais de 1,6 milhão de pessoas feridas ao custo direto de quase R$ 3 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS).
No período de 2008 a 2016, foram a óbito pelas mesmas causas 368.821 pessoas em nosso país.
Ainda a nível nacional, o levantamento do CFM mostra que, a cada hora, em média, cerca de 20 pessoas dão entrada em um hospital da rede pública de saúde com ferimento grave decorrente de acidente de transporte terrestre.
Ao avaliar o volume total de 1.636.878 vítimas graves do tráfego nos últimos dez anos, é possível verificar que 60% desses casos envolveram vítimas com idade entre 15 e 39 anos, sendo menor a frequência nas faixas etárias que vão de zero a 14 anos (8,2%) e em maiores de 60 anos (8,4%).
Outra constatação: quase 80% das vítimas eram do sexo masculino.
Para o coordenador da Câmara Técnica de Medicina de Tráfego do CFM, José Fernando Vinagre, o levantamento mostra que os acidentes de trânsito constituem um grave problema de saúde pública e que provoca sobrecarga nos serviços de assistência, em especial nos prontos-socorros e nas alas de internação dos hospitais. “É preciso reconhecer o importante aprimoramento da legislação ao longo dos anos e também o aumento na fiscalização, especialmente após a Lei Seca. No entanto, precisamos avançar nas estratégias para tornar o trânsito brasileiro mais seguro”, destacou.
Por Estado, o levantamento mostra que no período de 2019 a 2018, houve um crescimento de 33% na quantidade de internações em todo o País.
O pior cenário, identificado pelo CFM, foi no estado de Tocantins, que saiu das 60 internações, em 2009, para 1.348, no ano passado (aumento de 2.147%). Na sequência aparece Pernambuco, onde o salto foi de 725% na última década. Apenas cinco estados registraram queda no número de internações por acidente de transporte: Maranhão (redução de 40%), Rio Grande do Sul (22%), Paraíba (20%), Distrito Federal (16%) e Rio de Janeiro (2%).
O Estado de São Paulo teve um total de 379.793 internações por acidentes de trânsito no período de 2009 a 2018. O ano com maior número de internações foi 2011 com 40.664, com menor número foi 2009 com 35.076 e 36.849 em 2018.
As despesas de internação em São Paulo foram R$759.109.440,73 no mesmo período e o número de óbitos foi de 62.930.
Em números absolutos, 43% do volume total de internações registradas no SUS no período ficou concentrado em estados do Sudeste, região que reúne também metade da frota de veículos automotores do País. Outros 28% dos casos graves ficaram no Nordeste e o restante ficou diluído entre o Sul (12%), Centro-Oeste (9%) e Norte (7%).
Para a presidente da CFM, Carlos Vital, a solução para reduzir os acidentes depende de uma série de fatores de prevenção, reforço na fiscalização e sinalização, além de questões de infraestrutura e aprimoramento dos itens de segurança dos veículos. “Neste contexto, os médicos desempenham papel fundamental nas discussões sobre direção veicular segura. O impacto desses acidentes nos serviços de saúde é alto. Leitos são ocupados, hospitais e médicos se dividem no atendimento entre os acidentados e os que procuram assistência médica para patologias que não poderiam prevenir, diferentemente dos acidentes de trânsito, que podem ser reduzidos e prevenidos”, destacou.
Em todo o Brasil, os números do levantamento do CFM, que considerou também dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, mostram que em 2016, foram registrados 37.345 óbitos decorrentes de acidentes de transportes terrestres. Segundo o levantamento, embora a quantidade seja a menor registrada no período analisado (2007 a 2016), o número de mortes tem avançado em alguns estados, sobretudo das regiões Nordeste e Norte do País.
Na região Norte, a mortalidade por acidentes subiu 30%. Da mesma forma, no Nordeste houve um crescimento de 28% dos casos. No Centro-Oeste também houve aumento do indicador (7%), enquanto nas regiões Sul e Sudeste apresentaram menor quantidade de óbitos em 2016, frente à 2007, com queda de 15% e 18%, respectivamente.
Embora os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná liderem o ranking nacional em números absolutos de mortes no trânsito durante os últimos dez anos, o Piauí foi a federação que apresentou o maior crescimento proporcional no período: 56%. Em 2007, 670 óbitos haviam sido registrados naquele estado, número que saltou para 1.047 dez anos depois.
Na mesma proporção, de 56%, cresceram os registros vítimas fatais no Maranhão no período.
Ao todo, 16 estados notificaram aumento desse tipo de agravo.
De outro lado, o estado de São Paulo, que é o mais populoso do País, informou queda na quantidade de óbitos desta natureza. Em 2016 foram 5.740 mortes, 24% a menos que o indicado em 2007 (7.550).
No quadro nacional, também figuraram com redução significativa de casos fatais no período os estados de Santa Catarina e Roraima, ambos com queda de 23%; Distrito Federal (22%); e Espírito Santo (20%).
Antonio Meira Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) e membro da Câmara Técnica do CFM, enfatiza que os custos com os acidentes de trânsito vão além das hospitalizações. “Estamos falando de um custo médio de aproximadamente R$ 290 milhões ao ano, que obviamente foi investido para salvar vidas, o que é justificável. Se conseguíssemos diminuir o número de vítimas do trânsito, no entanto, teríamos um impacto muito grande também nas contas públicas. São recursos que poderiam ser direcionados para outras áreas prioritárias da assistência em saúde no País”, pontua.