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segunda-feira, 4 de junho de 2012

CPI’s de Pizza em tempos de eleição

Por: Riselda Morais   

Nos últimos dias, o que mais ouvimos falar é no senador Demóstenes Torres, Construtora Delta, Carlinhos Cachoeira, CPI mista do Cachoeira. Mista porque é instalada na Câmara dos Deputados e no Senado, em conjunto. Cachoeira porque não é a primeira vez que o dinheiro do povo vai rio abaixo, afinal, Carlos Augusto Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira foi o pivô da CPI dos Bingos em 2004, quando foi filmado negociando propina com o  ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, esta CPI  terminou com o indiciamento de 79 corruptos, sendo o nome mais citado, o do então ministro Antonio Palocci.
    Transações entre lobistas, empresários sem ética, sem moral e políticos sujos, existem o tempo todo, o que não existe é punição eficaz e devolução do dinheiro aos cofres públicos,  a corrupção só aparece em ano de eleição, quando a roubalheira é usada para embates entre governistas e oposição para angariar votos de pessoas ingênuas, depois tudo acaba em pizza. Nos últimos anos tivemos todos os tipos de CPI’s, em vários governos, de vários partidos, mas a tática continua a mesma e ao final, o prato principal permanece sendo a pizza. Tivemos a CPI do Mensalão, também com comissão mista, que iniciou-se com a compra de votos em 2005, passou pela distribuição de propina entre parlamentares, tendo como nome mais citado o empresário Marcos Valério e terminou em pizza. Também em 2005, tivemos a CPI dos Correios com a denuncia do mensalão, supostas mesadas pagas a parlamentares, o esquema de corrupção envolvia o diretor do Depto de Contratação e Adm. de Material dos Correios e Telégrafos, Maurício Marinho e o presidente do PTB Roberto Jefferson, teve 100 indiciados e também foi usada para embate entre governistas e oposicionistas. Em 2006 foi a vez da CPI mista dos Sanguessugas, quando foram desviadas verbas destinadas a compra de ambulâncias. Em 2007 foi realizada a CPI do Apagão Aéreo, cujo relator foi Demóstenes Torres, além de corrupção, a comissão investigou o desvio de dinheiro público da Infraero. Não se pode negar que Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira têm vasta experiência em CPI’s. Nesta, em que o “sujo investigava o mal lavado”, o relatório de Demóstenes foi rejeitado pelos membros da CPI. Também em 2007, foi instaurada a CPI das Escutas Telefônicas, quando ministros do Supremo Tribunal Federal foram vítimas de grampo ilegal. Só nesta CPI  foram realizadas 102 reuniões, nela foi indiciado o banqueiro Daniel Dantas. Em 2008 foi a vez da CPI  mista dos Cartões Corporativos, quando foi investigado o uso dos cartões por integrantes da administração pública federal , cujos gastos excessivos foram citados no relatório final como “equívocos“ e terminou em pizza. Além dessas águas sujas, passaram pelas cachoeiras da política, a CPI do Banestado que envolvia remessas ilegais de recursos entre US$ 80  bilhões e US$ 150 bilhões para fora do País,  quando apesar do ex prefeito Celso Pitta e o ex presidente do Banco Central Gustavo Franco, terem sido indiciados,  o relatório final sequer citou o ex prefeito Paulo Maluf ou chegou a ser votado. A CPI  do Futebol apontou um arsenal de fraudes com cartolas e indiciou 17 por apropriação indébita, evasão de divisas, sonegação, lavagem de dinheiro e estelionato, o mais acusado foi o presidente da CBF Ricardo Teixeira. A CPI do Orçamento envolvia ministros, parlamentares e altos funcionários, os “anões do orçamento“ desviavam o dinheiro público para empreiteiras e apadrinhados políticos. A CPI do PC Farias investigou o esquema de corrupção de tráfico de influência, loteamento de cargos públicos e cobrança de propina, resultou no impeachment de Collor e na morte misteriosa de PC Farias, afinal, Collor confiscou a poupança de todo mundo. É interessante se perguntar: - Quantos desses indiciados foram ou estão presos e quantos reais devolveram aos cofres públicos?.
    No mínimo, 6 dessas CPIs foram intauradas, depois de denúncias da revista Veja, coincidência?. Em cada uma dessas CPIs foram envolvidos o trabalho de no mínimo 171 dos 513 deputados e 27 dos 81 senadores, cada minuto de trabalho de um parlamentar, custa, segundo Transparência Brasil, R$ 11.545,00, as investigações duraram meses e outras anos, neste período foram convocados testemunhas, investigados e indiciados, durante as sessões muitos usaram o direito de permanecer calados. 
    Quanto custou todo esse tempo empregado em CPI’s? Além de nos roubar, ainda nos fizeram pagar para que, aqueles que deveriam elaborar leis atuais e justas, ficassem olhando para seus rostos cínicos enquanto silenciavam. Restou ao povo, as leis obsoletas que favorecem mais ao criminoso que ao cidadão e a conta para pagar. Resta-nos imaginar o sabor amargo da próxima pizza.