Pesquisar

sábado, 13 de novembro de 2010

“Presidenta da República” consagre o uso da palavra e a estranheza desaparece

Por: Riselda Morais

Nas últimas semanas o maior questionamento dos brasileiros tem sido como irão se referir a Dilma Rousseff a partir do dia 1º de janeiro de 2011, quando ela assume a Presidência da República.
Quanto a melhor forma de tratá-la, há discordância entre professores, jornalistas, políticos e populares a respeito, mas independente de quem concorda e quem discorda com a forma de tratamento, a verdade é que as duas formas da palavra estão corretas, podemos dizer “a presidente” e podemos dizer “a presidenta” e posso também afirmar que “a realidade é que é nova, mas a palavra já tem algumas décadas de existência”.
Em 1991, o Dicionário Brasileiro o Globo já trazia a palavra: Presidenta - s.f. ( neologismo) Mulher que preside; esposa de um presidente. Assim como as últimas edições do Dicionário Aurélio: Presidenta - S.f. 1. Mulher que preside. 2. Mulher de um presidente; e no Dicionário Houaiss: Presidenta - Acepções ¦ substantivo feminino
1 - mulher que se elege para a presidência de um país. Ex.: a p. da Nicarágua
2 - mulher que exerce o cargo de presidente de uma instituição. Ex.: a p. da Academia de Letras
3 - mulher que preside (algo)
Ex.: a p. da sessão do congresso
4 - Estatística: pouco usado. esposa do presidente. Como se pode perceber, do ponto de vista da norma culta, dicionários já recomendam a palavra que existe há décadas, mesmo como neologismo, mas não era utilizada.
Quando nos deparamos com uma palavra no feminino e estamos acostumados a ela na forma comum aos dois gêneros, para não usarmos essa palavra, nos damos a desculpa que soa estranho aos nossos ouvidos, mas na verdade está em nossa cultura a estrutura machista, exemplo disso é que, quando uma mulher conquista um cargo que antes pertencia só aos homens, mesmo sem percebermos temos a necessidade de nos dar a impressão de que um homem continua lá e a predominância de “a presidente” reflete este machismo.
Só agora, depois de tantas lutas das mulheres na sociedade é que os dicionários começaram a registrar palavras no feminino em áreas antes exclusivas dos homens. Podemos até dizer que a gramática não permite, que trocar o sufixo fica feio e que não cabe uma terminação diferente, mesmo porque a terminação “ente” ocorre no particípio presente dos verbos portugueses, espanhóis e italianos, a palavra presidente é igualzinha nas três línguas e geralmente tem forma fixa, ou seja, é igual para o masculino e para o feminino; o que muda é o artigo “o” ou “a”, mas tanto a presidenta da Argentina Cristina Kirchner como a nossa presidenta Dilma Rousseff deixaram clara sua preferência de como querem ser tratadas: presidenta.
É mais fácil mudar as palavras do que os costumes das pessoas; a gramática aceita a mudança as pessoas é que não aceitam. Já percebeu como raramente alguém fala “parenta” ao invés de “parente”? E como jamais se fala hospeda, soldada, sargenta, coronela, capitã, generala mas sim, para as mulheres usa-se tenente, hospéde, soldado, sargento, capitão? Percebe quão estranho e inaceitável é a gramática no caso de “A soldadO”?
As palavras existem no feminino mas não são aceitas, logo não são usadas. Na luta feminina por seu espaço, muitos cargos antes ocupados só por homens já são ocupados por mulheres, mas a estrutura machista ainda impede a feminização das palavras, das patentes na divulgação de seus documentos oficiais, sem que ninguém pergunte a essas profissionais como se sentem ao serem tratadas como homens só porque ocupam um cargo com igual valor ao deles. Pode ser que os gramáticos concordem com esta forma, mas eu não. Temos em nossa língua portuguesa duas formas linguisticamente corretas e plenamente aceitáveis para várias palavras por isto falar “a presidenta” ou “a presidente” é uma questão de preferência ou de padronização, uns preferem a forma comum aos dois gêneros como “a chefe”, “a parente”, “a presidente” outros a forma feminina “a chefa”, “a parenta’, “a presidenta”. Tudo é uma questão de costume, estrutura cultural, chegará a hora em que todos falarão presidenta, chefa, parenta com a mesma naturalidade com que falam brasileira e sem carga pejorativa.